Ruínas...
Aquele cinema abandonado,
Com o letreiro caído,
Que virará uma igreja evangélica,
Isto é uma ruína.
A Grécia atual, tão distante
Do esplendor do antigo império,
Ela inteira é uma ruína.
Aquele playground
Do meu prédio de infância,
Outrora cheio de crianças,
Gritos, sonhos e risos,
Hoje vazio e morto,
Não passa de uma ruína
Amo as ruínas,
Porque as compreendo;
Compreendo as ruínas,
Porque sou ruína.
Ruína: O que ontem foi algo,
E hoje não é mais.
Quando eu amava e me amavam,
Era só vida, potência, profundidade
Prazer e verdadeira felicidade
Era o meu esplendor, apogeu
Desse império chamado amor.
Hoje sou o que restou, quase nada:
Uma coluna dórica rachada.
Recentemente contemplei
As ruínas de Machu Picchu
Decepcionado, constatei
Que mirava um espelho...
E eu que sonhava viajar
Aos quatro cantos do mundo,
E conhecer as ruínas que existem,
Minhas irmãs em sofrimento...
Ora, tenho espelho em casa,
De nada serve viajar.
Por que devo ir a Roma,
Para ver o Coliseu?
Eu sou o Coliseu!
Não o grandioso Anfiteatro
Da época dos gladiadores
(Esse já fui, mas não mais).
Sou o Coliseu dos turistas,
Quebrado e sem vida.
Oh, como é dolorido ser ruína!
Lembrar da gloriosa era imperial
E ter a certeza absoluta
De que ela jamais retornará...
Eu choro com a Grécia medíocre,
Com o cinema abandonado,
E com o playground vazio.
Choro com todos os arruinados
Porque é tudo que me resta...
Aqui termina o lamento
Dessa eterna ruína ambulante
Senhores turistas, caso desejem me visitar
Fiquem à vontade, eu moro na Tijuca.
Sempre penso que quando tomamos contato com um poema seja pela primeira vez ou enésima nnunca estamos diante da mesma palavra que achamos que conhecemos - quando é a primeira vista - ou que é a mesma palavra - quando relemos - algo. Significado é algo mais nômade que há no mundo das palavras, migra de palavra para palavra, constantemente, possibilitando nossa própria migração de pensamento - cada significado um pensamento, uma interpretação. Como diria o poeta Ezra Pound, poesia é transcendência do significado... Hoje, lendo seu poema, percebe-se como é capaz construir usando como matéria prima a própria ruína de algo. Interessante como o paradoxo se justifica quando mergulha-se num contraponto entre a viagem e a descoberta que se é "ruína". Todos somos ruínas, somos montanhas de decepções, alegrias inacabadas, frustações completas, sorrisos transcorridos... Lágrimas descompassadas. Sua poesia reconstrói a imagem do Coliseu, compara-o a um monumento que cada um é em si, mas como um memento mori retoma a ideia de ser "ruínas. Somos monumentos feito de, interiormente, de ruínas... Parabéns, grande poema. Muito bom.
ResponderExcluirGostei da sua interpretação, é isso mesmo! Abraços!
ResponderExcluirAss.: Ruína