Auguste e Louis Lumière, os fake pais do Cinema |
Na última aula aprendemos que os irmãos Lumière não criaram o
Cinema, como muitos pensam. A dupla francesa tampouco fez a primeira
apresentação de Cinema pública e paga. Um mês antes da famosa demonstração do
Cinematógrafo em Paris, uma outra dupla de irmãos, os alemães Emil e Max
Skladanowsky fizeram em Berlim a primeira apresentação pública e paga de Cinema
no mundo com seu Bioscópio.
Os pioneiros do cinema alemão Emil e Max Skladanowsky |
Bioscópio |
Esse filme é um dos mais famosos dos Skladanowsky:
Resta então a seguinte pergunta: Por
que os Lumière são tão famosos? Porque eles eram reis do marketing e porque
seu cinematógrafo era superior aos concorrentes, já que não utilizava
eletricidade e podia ser câmera ou projetor e ainda fazer cópias a partir dos
negativos. Cumpre mencionar que muitos afirmam que o verdadeiro criador do cinematógrafo foi o francês Léon Bouly (já aprendemos na aula sobre Edison que uma coisa é a criação, outra o registro de patente). Os Lumière e o seu (?) cinematógrafo fizeram grande sucesso nos EUA apresentando seus filmes
nos Vaudevilles, abordados na última aula.
Cinematógrafo. Lumière ou Bouly? |
Um fato pouco mencionado é a adesão
de Louis Lumière ao fascismo. Louis enviou uma carta ao Duce italiano Mussolini
louvando este e seu regime. Mas já basta de queimar os Lumière, coitados. Vamos
assistir uma coletânea de alguns de seus filmes:
Os irmãos Lumière estavam preocupados
basicamente em retratar o movimento, algo almejado principalmente pelos
fotógrafos, como vimos na aula passada. Esses primeiros filmes são uma grande
homenagem à vida, pois na definição de Aristóteles, vida é movimento.
Os principais polos do Cinema
primeiro são os EUA e a França. Nos EUA, há uma verdadeira guerra entre a
Edison, Vitagraph e Biograph; Na França os Lumière disputavam com a Star Film,
do mágico George Meliès e a Companhia Pathé, de Charles Pathé. Porém,
desacreditados em relação ao Cinema, os irmãos Lumière vendem suas patentes à
Pathé em 1902, tendo uma curta participação na história do Cinema. Segundo os
irmãos franceses, “O cinema é uma invenção sem futuro”. Erraram feio. Hora de
tratarmos do grande George Meliès, principal nome do chamado “Cinema de
espetáculo”.
George Meliès, mágico em todos os sentidos |
George Meliès foi um ilusionista francês
que entrou no mundo do Cinema e revolucionou o mesmo. Meliès, enquanto mágico,
usou o Cinema como mais um recurso para maravilhar as pessoas. Pode-se dizer
que Meliès é o pai dos efeitos especiais, pois muitos recursos foram criados
por ele para espantar os expectadores. Daí extraio minha “tese do retorno”,
pois o Cinema começa com o objetivo de meramente entreter as pessoas com
efeitos especiais, sem focar em histórias elaboradas, depois ele vira uma Arte
de verdade, e por fim retorna às origens como está o Cinema blockbuster atual,
que foca nos efeitos especiais para entreter as pessoas, sem se valer de enredos
profundos e complexos.
Esse é o filme mais famoso de Meliès, Viagem à lua (1902), considerado o primeiro filme de Ficção científica da história. Quem nunca viu a famosa cena da nave espacial chegando à lua?
Dentre os truques usados por Meliès em seus filmes, podem-se citar as "paradas para substituição", usadas para desaparecimentos e substituições de objetos. No filme abaixo, A mansão do diabo (1896), o uso dessa técnica é frequente:
Antes de tratarmos do cinema de transição cumpre mencionarmos a influência dos ingleses da Escola de Brighton. Seus integrantes eram Alfred Collins, George Albert Smith e o principal deles, James Williamson, o pioneiro do cinema inglês. A Escola de Brighton rompe com o estilo de câmera fixa dos Lumières e Meliès, e filmam com a câmera em movimento, trazendo novas possibilidades estéticas. Nesse famoso filme de James Williamson, vemos o uso dessa técnica num close altamente criativo:
O uso da câmera em movimento também pode ser visto nesse filme de George Albert Smith:
A passagem do cinema de Atrações para o cinema de Transição ocorre aos poucos, não há um corte repentino. As narrativas vão aos poucos se tornando mais elaboradas e a atividade do Cinema se organiza em moldes industriais. A partir de 1905 começam a surgir os Nickelodeons, grandes armazéns abafados nos quais se exibiam filmes. Os ingressos custavam 1 níquel, ou seja, five cents, daí o nome (lembrando que Odeon era uma espécie de teatro grego coberto no qual se apresentavam músicos e poetas). Esses Odeons a 1 níquel se espalharam pelos EUA, deixando para trás a era dos Vaudevilles e marcando o início do cinema verdadeiramente industrial. Pelo preço barato, pode-se inferir que os expectadores eram em sua maioria pobres (por isso os Nickelodeons eram apelidados de teatros de operários).
Odeon de Éfeso, Turquia |
Nickelodeon |
No cinema de transição já se percebe menos ação física e mais definição psicológica nos personagens. Além disso, filmes com mais de uma hora eram raramente exibidos em Nickelodeons. Os Nickelodeons vão declinando conforme o Cinema vai evoluindo. O público do Cinema cresce consideravelmente e os filmes vão ficando maiores, principalmente com o lançamento do filme "O nascimento de uma nação", de David W. Griffith, que estabelece os filmes longa como regra. Mas antes de falar da importância e polêmica envolvendo Griffith, destaco alguns filmes importantes desse período, porquanto nossa próxima aula já será sobre as vanguardas do século 20, começando pelo maravilhoso Expressionismo Alemão.
O filme russo Stenka Razin (1908) foi o primeiro filme dramático russo. Seu diretor Alexander Drankov foi um dos pioneiros do cinema russo. Não é dos filmes mais legais, porém vale pela música pelo menos:
Os filmes de Max Linder também merecem ser abordados. Max Linder foi um comediante francês muito talentoso que influenciou Charles Chaplin, entre outros. Com seu personagem malandro e namorador, ele fez muitas comédias, mas morreu na tragédia: se matou no auge da fama. Mas não fique triste, leitor, assista esses filmes dele:
O filme Cabiria (1914) é simplesmente uma obra-prima. A Itália produziu outros bons épicos antes desse, mas Cabiria certamente é um divisor de águas. O filme conta a história da menina Cabiria sequestrada para ser morta em sacrifício ao Deus Baal na Segunda Guerra Púnica entre Roma e Cartago. O filme é grandioso, com muitos atores e cenários e figurinos impecáveis. A cena do templo de Baal onde ocorrem os sacrifícios das crianças é maravilhosa. O filme também trata do Cerco de Siracusa, que ocorreu durante a Segunda Guerra Púnica. Arquimedes, o grande matemático grego era de Siracusa e participou ativamente da defesa de sua cidade utilizando diversos utensílios por ele criados. O invento mais famoso foram espelhos que refletiram o calor do sol e fizeram queimar os barcos de madeira dos invasores romanos (a veracidade desse fato é contestada por muitos). A cena de Arquimedes atacando os navios é muito boa. Por fim, menciono a famosa cena da pirâmide humana, muito criativa. Assista fazendo um intervalo, o filme é grande. Mas assista, porque é realmente muito bom:
Agora podemos tratar do diretor mais importante do período de transição, o americano David W. Griffith.
D. W. Griffith |
David Griffith trabalhou na Biograph, e entre 1908 e 1913 produziu mais de 400 curtas. Pode-se citar entre as características de sua filmagem o fato de sempre encenar a ação na frente da câmera e o uso das "Montagens Pararelas", para explorar contrastes entre ricos e pobres, bons e maus, etc. Influenciado pelo filme épico Cabiria, Griffith resolve investir nos longas e cria em 1915 "O nascimento de uma nação", talvez o filme mais importante da história do cinema, se eu tivesse que escolher um.
A KKK do Tarantino no Django não é tão gloriosa assim |
Nesse filme, o mais longo filme americano da época e considerado o precursor do cinema clássico, Griffith conta a história dos EUA desde a guerra civil americana, passando pela excelente cena do assassinato de Lincoln no teatro Ford até chegar num ponto extremamente polêmico: Griffith nos diz que os negros, após a abolição da escravatura alcançaram o poder, mas são retratados como uns bichos no parlamento, com os pés descalços no meio das reuniões. Então ele diz que para salvar o país daquela bagunça, daquela verdadeira anarquia negra, foi criada a gloriosa Ku Klux Klan. O filme causa repulsa nos dias de hoje, e na época também causou em algumas pessoas. Contudo, a diferença é que o racismo na época era uma opção política. Não que tenha sido uma escolha louvável. Tentar compreender não é perdoar, já dizia Hannah Arendt. Os cavaleiros da KKK surgem imponentes, e a mensagem que o filme passa é que a nação americana só nasce mesmo com a criação da KKK. Assista:
No ano seguinte, para rebater as críticas que recebeu em relação ao conteúdo racista do filme O nascimento de uma nação, Griffith lança o filme "Intolerância", como se o problema fosse não de Griffith, mas sim dos intolerantes críticos. O filme, mais um exemplo de montagem paralela, trata de quatro histórias simultaneamente, uma na Babilônia, uma na Judéia (retratando a morte de Cristo), uma na França (massacre de São Bartolomeu) e uma moderna nos EUA. Assista e até a próxima aula!