quinta-feira, 15 de maio de 2014

FUGERE URBEM




A metrópole é um grande erro.
Fumaça, barulho, dinheiro, pressa,
Tanta pressa que escrevo enquanto janto.
Quero ouvir Britten, mas a britadeira não deixa.
Quero ouvir Vivaldi, mas o "chip da VIVO é cinco reais",
Gritam as vendedoras, com a voz mais irritante do mundo
(Deve ser pré-requisito, vai entender).
Amanhã já sei que o engarrafamento me espera.
Olho para cima, buscando conforto em meio ao caos
E me deparo com gigantescos e opressores espelhos
Que refletem todo o nosso vazio.
A alma do homem pós-moderno
É retratada fielmente por essa nula arquitetura.
Calem-se auto-falantes! Calem-se sirenes! 
A cidade é um grande incômodo para mim.
Queria largar tudo e ir pro campo!
Ah, o campo...

Mas espere: eu não gosto do campo!

O campo, com seu verde monótono e eterno
E algumas flores, com as quais eu finjo me importar
Quando escrevo sobre flores.
Em verdade não sei seus nomes, e desconheço seus perfumes.
O campo? O campo fede à bosta de cavalo!
Eu não suportaria viver um minuto lá
Com seus habitantes rudes, sem instrução e com chapéu
(Sim, eles adoram um chapéu).
Nada acontece no campo; o silêncio do ócio
Só é quebrado pelos irritantes grilos, bichos certamente infernais.
E o que dizer dos mosquitos à noite, zunindo Korsakov 
Chupando meu sangue e transmitindo dengue?
E o molho pardo da galinha caipira? Puro sangue!
E o queijo dos amadores fazendeiros? Puro leite!
Eu não tenho a alma de um Horácio Hippie
O campo é um grande incômodo para mim

E se só há cidade e campo
Eu não tenho para onde fugir.




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