A essência do documentário “Arquitetura da
destruição” reside no fato de como os nazistas utilizaram a arte como
instrumento político e como reflexo dos ideais que advogavam. Hitler defendia
uma nova Alemanha, com novos valores, e para tanto, destruiu toda a moral
vigente e toda idéia de dignidade. Ele defendia um Reich alemão composto apenas
por membros da “raça pura ariana”, e dentre esses, os saudáveis. Para os
nazistas, o Novo super Homem (tão distante da idéia de übermensch de Nietzsche) deveria ser ariano, belo
e saudável.
Em termos artísticos tal conceito até foi
produtivo, porquanto o filme deixa claro que um verdadeiro renascimento
cultural foi promovido naquela época na Alemanha. Um retorno aos ideais
clássicos, às formas perfeitas e à escultura no estilo grego ocorreu sob o
governo de Hitler. Porém, esses mesmos nazistas combateram uma arte nova e
original que estava surgindo naquela época, como expressionistas, cubistas,
entre outros tipo de arte moderna. Gênios
notórios e incontestes como Max Ernst e Oskar Kokoschka foram considerados
“degenerados”, e seus quadros com formas tortas e desproporcionais foram usados
pelos nazistas como prova de que seus autores eram doentes e tortos como os
personagens por eles retratados. De modo a defender esta risível tese, os
nazistas, profissionais em propaganda, compararam os personagens “degenerados”
com fotos de “pessoas degeneradas”, ou seja, de doentes mentais.
Portanto, a relação dos nazistas com a
arte é positiva e negativa. Positiva porque promove um renascimento cultural;
negativa, porque ao mesmo tempo combateu uma arte original e genial. Entende-se
porque os nazistas combateram esses artistas modernos: a maioria deles também
usava a arte como instrumento político, e tinham, na sua maioria, tendências marxistas.
A escola de arte moderna Bauhaus inclusive foi fechada pelos nazistas, por ser
considerada “anti-germânica” e conter muitos estudantes russos. Também havia
guerra no mundo das artes: O clássico versus o moderno.
O combate ao marxismo também fica nítido
quando é mostrado no filme que o objetivo era formar um povo alemão unido (“ein Volk”), sem classes sociais. O conceito marxista de “luta de classes” é
completamente abandonado, e percebe-se isso no trecho em que o nazista diz que
se você investir no trabalhador, com higiene e cultura, ele não vai ter por que
fazer uma revolução.
O que deve ficar claro é o quanto custou
essa bela arte clássica nazista para quem não se encaixava nos parâmetros dela.
Os considerados doentes e os doentes de fato, ou seja, os que estavam fora do
padrão de saúde e beleza defendidos, fossem alemães ou não, eram mortos (não
por eutanásia, pois não havia consentimento, mas por homicídio). O Saturno
nazista comia seus próprios filhos alemães, se estes não fossem saudáveis e vigorosos.
Todo o amor ao tipo ideal ariano; todo o desprezo aos que não se encaixavam
nesse perfil. Prova disso é o trecho do filme que mostra a bela arquitetura de
um manicômio alemão, enquanto um nazista fala que é um desperdício uma
arquitetura tão bela para uns doentes loucos que não tem capacidade de apreciar
tamanha beleza. O princípio da dignidade humana foi completamente pisoteado
pela bota nazista.
O filme Olympia, de Leni Riefenstahl está
inserido nessa estética nazista mencionada. O começo na Grécia clássica não
deixa dúvidas. Além disso, com técnicas aprimoradas de filmagem e o uso de slow
motion, a diretora idealiza o ser humano e suas formas. Porém, ali, a união
entre as nações pela olimpíada é celebrada, independentemente da raça. Todo ser
humano é idealizado nesse fime, o que é uma grande e incômoda mentira para
aqueles que conhecem a ideologia nazi. A idéia de fraternidade, de povos
unidos, vai ao encontro do “Alle Menschen werden Brüder” (todos os homens se irmanam)
defendido por Schiller e Beethoven, mas é exatamente o contrário do que prega o
nazismo, que despreza raças consideradas por eles inferiores, como judeus,
eslavos, negros, entre muitas outras.
A arte nazista é grandiosa, porém difícil
de ser apreciada por um conhecedor das práticas de terror, genocídio e dos
macabros valores vigentes na Alemanha naquele período. A grandiosidade dos
nazistas é pequena.
Pelo exposto, não restam dúvidas de que
foi promovido um renascimento clássico na Alemanha, porém aquela época não
pedia um renascimento clássico, já que,
diferente da idade média, que não via o homem como um ser individual, que era
contra a ciência e toda forma de avanço, os anos 30 do séc XX eram extremamente
ricos culturalmente, com a arte moderna combatida pelos nazistas. A Alemanha
arrasada no pós primeira guerra necessitava de um Renascimento; a cultura não.
É evidente o motivo pelo qual o
Renascimento clássico promovido pelo pintor e arquiteto frustrado Hitler não é
louvado e é até mesmo olvidado, em completo contraste com o tão festejado
Renascimento italiano. Os italianos não massacraram todos que não se encaixavam
na estética clássica do belo, tampouco promoveram genocídios com base em
ideologias sem sentido. Os crimes que os nazistas cometeram contra a humanidade
nos fazem querer desprezar tudo o que envolve a Alemanha daquele período,
chegando alguns ao cúmulo de desprezarem tudo o que é alemão, o que é um grave
problema. Está na hora de nos curarmos do trauma promovido pelos nazistas e
enfrentarmos algumas questões que não podem permanecer para sempre como um
tabu.
A busca por feitos grandes foi deixada de
lado no pós segunda guerra mundial, e na opinião desse autor isso ocorreu
devido ao trauma deixado pelos genocídios promovidos pelos nazistas, que a todo
momento buscavam se superar, e alcançar o grandioso e o sublime. “Então isso é
ser grande? É oprimir? Torturar? Assassinar?”. Enquanto tivermos esse
pensamento, o Homem estará adormecido, como está atualmente. Nossa época sim,
pede, clama, implora por um renascimento cultural (ou uma revolução na arte e
no saber). O Homem não cria e não pensa nada novo, estamos vivendo na
verdadeira idade das trevas, e precisamos mais do que nunca de pensadores e
artistas, que entendam nosso mundo atual e apontem saídas para os nossos problemas.
Por fim, cabe à nossa geração voltar a
buscar a grandiosidade, mas a verdadeira grandiosidade, a criação do gênio, do
artista, do filósofo, e não do opressor, do torturador, do genocida. Que
saibamos dar o real valor às coisas e considerar grande o que realmente for
grandioso.
Muito Bom! Como sempre Crítico Sobretudo nos leva a refletir... e muito!
ResponderExcluirmuito show mw ajudou mto com o trabalho de historia... vlw
ResponderExcluirmuito show mw ajudou mto com o trabalho de historia... vlw
ResponderExcluirEXELENTE PENSAMENTO E CONDIZ COM REALIDADES A NÍVEL MUNDIAL
ResponderExcluirMuito bom me ajudou muito e tbm me fez pensar sobre varios fatores cotidiano ...
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