quarta-feira, 19 de outubro de 2011

MONA LISA DESPREZADA




Vincenzo Peruggia saiu nervosíssimo do Louvre. As coisas nunca saem como planejamos. Seu plano de furtar a Mona Lisa de Leonardo da Vinci era perfeito. Tal plano era um esquema complexo que incluía uso de alta tecnologia e alta propina. Porém, um único erro estragou tudo: Uma câmera recentemente instalada no museu foi ignorada por Peruggia. Segundos após deixar o museu em posse da obra, ele percebeu que estava sendo perseguido por vigias de lá. Os vigias estavam longe, porém a polícia já devia estar sabendo do ocorrido e logo mais estaria em seu encalço.
O italiano tentou se acalmar. Enquanto fugia, pensou que não haveria problemas caso fosse pego. O povo da Itália entenderia seu gesto patriótico, afinal a Mona Lisa é da Itália, e para lá deve retornar! O verdadeiro ladrão chama-se Napoleão Bonaparte! Porém, tal pensamento foi interrompido por outro mais intenso: A polícia que perseguia ele não era a italiana, mas sim a francesa. O italiano temeu receber da polícia uma saraivada de tiros e morrer jovem. Peruggia começou a ter tonturas devido ao nervosismo, e, movido pelo desespero, resolveu se livrar da Mona Lisa, jogando a obra num saco de lixo da rua.
No dia seguinte, Peruggia foi preso, e com muito orgulho confessou seu ato heróico (crime para alguns). Durante sua confissão, ele aproveitou para filosofar, dizendo que a Mona Lisa é a prova de que o Homem é um artista superior a Deus. Seu argumento foi curioso: Para ele, bastava observar a preferência dos turistas. Se Deus fosse o maior artista, o Brasil com suas belezas naturais (criações divinas) seria o país mais visitado pelos turistas; contudo, estes preferem visitar a França por causa do Louvre, por causa da Mona Lisa (criação do Homem). Só para adiantar, o italiano foi realmente considerado herói em seu país e ficou apenas alguns meses preso. Porém, é preciso mencionar algo incrível que aconteceu nesse mesmo dia em que Peruggia foi pego pelos policiais franceses. Candide, o mendigo das redondezas estava andando pelas ruas bastante bêbado. Ele vinha resmungando da vida quando começou a revirar um lixo em busca de algo de valor. Naquele saco ele só havia encontrado um pneu de bicicleta furado, umas caixas vazias, jornais e um quadro. Descontente com sua má sorte, ele arremessou longe o pneu furado, descontando em seguida sua raiva no quadro com chutes e pisões. Um transeunte francês viu tudo e reconheceu o quadro como sendo a autêntica Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, obra recentemente furtada, cujo paradeiro era desconhecido. O homem tentou em vão encaixar os pedaços do quadro, desamassar a tela e juntá-la com o que restou da moldura. Nada podia ser feito, o quadro estava completamente destruído. Aquele homem havia testemunhado o brutal assassinato de Mona Lisa. Nunca mais La Gioconda entreteria as pessoas com seu enigmático sorriso. Não havia jeito, era o fim. O homem então se deu conta de sua impotência e chorou muito. Chorou tanto que era como se a humanidade toda ali chorasse. O mendigo ficou sem entender o motivo do choro e de todo o esforço do homem em recuperar aquele quadro. Como um bom francês que era, o transeunte foi tomado por um pensamento profundo: Quantas Mona Lisas que cruzam nossas vidas não são por nós desprezadas pelo fato de ignorarmos o real valor que elas possuem? 



FIM










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