segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

CURSO DE CINEMA ARTÍSTICO - AULA 4 - EXPRESSIONISMO ALEMÃO








Hoje trataremos do Expressionismo alemão no Cinema. Mas antes vamos fazer uma retrospectiva da História da Arte em tempo recorde.

Se para Marx a história é a luta de classes,  a história da arte é marcada por outra luta: A luta entre a bela Ratio greco-romana e o forte Pathos nórdico.  Algo como um eterno retorno, uma alternância entre essas duas formas de expressão caracteriza a história da arte, senão vejamos.

De acordo com o genial historiador da arte Wilhelm Worringer, em seu livro Formproblem der Gotik, o homem primitivo vivia com medo, e não havia compreendido o mutável e misterioso mundo no qual habitava. Então ele cria a Religião, a Linguagem e a Arte, de modo a obter segurança e prazer em meio ao Caos. Na arte, esse escape da vida do homem primitivo, ele expressa sua ânsia por conforto e satisfação por meio da Linha, única abstração que o homem primitivo é capaz de apreender, bem como a única representação do que não é vida. Depois, ele evolui para a representação de formas geométricas.

Já com o Homem Clássico, cujo melhor exemplo é o helênico, há um ajuste entre o Homem e o Mundo Externo, ou seja, o Caos virou Cosmos. Em virtude da inteligência humana, a vida fica mais agradável, tudo faz mais sentido, e o homem vira antropocêntrico. Aqui a arte não mais é escape, mas sim louvor à vida. O divino para o homem clássico não está no ultramundano como acreditava o homem primitivo, mas sim neste mundo. O panteísmo demonstra isso, e a antropomorfia atinge seu clímax, dando origem à religião/mitologia. No mundo clássico ocorre um processo gradual no qual a religião é substituída pela ciência ou filosofia. Há então uma relação suplementar: Onde a ciência falha, a religião entra. A arte clássica é calma, proporcional e equilibrada, e representa diretamente a natureza.

Apolo de Belvedere

         O Gótico dos nórdicos, por sua vez, se caracteriza por ser tenso, transcendental, assimétrico, abstrato e representa a natureza apenas de forma distorcida. Sua base se desenvolve pelo estilo geométrico e de linhas do homem primitivo. As linhas nórdicas primitivas tem um poder imenso e independente, são como labirintos e possuem uma “melodia infinita”. Seus ornamentos primeiramente consistem em pontos e linhas, evoluindo posteriormente para linha curva, espiral, zig-zag e forma de S. Essas linhas excitadas e convulsivas demonstram a grande opressão e inquietude que os nórdicos sentem no seu interior. Essa mesma vontade espiritual por algo elevado e não sensitivo característica dos ornamentos nórdicos vai gerar a sublime catedral gótica, esse transcendentalismo em pedra, ponto mais alto do gótico. O que dá a ideia de transcendentalismo e eternidade na catedral gótica é a sua verticalidade. Gótico e clássico são mundos completamente distintos. Por isso não é de se espantar que uma alma clássica e acostumada ao belo como Giorgio Vasari, o pai da história da arte, tenha desprezado o gótico como sendo feio, bruto e bárbaro. O grande Vasari foi incapaz de compreender o gótico, suas premissas e o que esse estilo exprimia.

Ornamento gótico

         A arte ocidental permanece gótica até o advento do Renascimento. Aqui o Pathos se retira e temos um retorno à Ratio clássica e seus ideais de perfeição, simetria e beleza. Os alemães foram influenciados pelo Renascimento a ponto de haver existido um Renascimento Alemão. Segundo o mesmo Worringer, grandes artistas do Renascimento alemão como Holbein e Dürer se valeram da forma clássica, todavia o conteúdo de sua arte e sua vontade ainda eram góticos. Comparando o Renascimento italiano com o alemão pode-se afirmar que no primeiro, cujo ponto mais alto é Michelangelo, temos a mais forte representação de energias sensoriais; já o Renascimento Alemão é caracterizado pela mais forte representação de energias espirituais.

Davi, de Michelangelo

         Até aqui são ideias de Wilhelm Worringer. Agora continuarei demonstrando, de forma resumida, a continuidade dessa disputa entre Pathos e Ratio


           No final do Renascimento temos o Maneirismo, ou seja, é o Pathos já farto das formas perfeitas e louco para distorcer.


Giambologna, O rapto da Sabina


         Até que vem o Barroco e o Pathos realmente retorna com toda a sua força, caracterizado por uma reação religiosa aos ideais pagãos dos humanistas. O Barroco, tal qual o gótico, tem caráter transcendental e é todo movimento e atividade impaciente.

Rubens, Massacre dos inocentes


         No final do Barroco temos o Rococó, sua versão profana, caracterizado pelo exagero na decoração. Se hoje em dia um rico ignorante ostenta com uma Ferrari, o Rococó era o modo como ricos nobres europeus ostentavam na época. No Rococó ainda há o Pathos presente no Barroco; ele é exagerado e preza pelas formas assimétricas.

Jean-Honoré Fragonard, O balanço

        Mas a Ratio não ia deixar barato e retorna com o Neoclassicismo, contra os excessos decorativos do Rococó. O Rococó é acusado de ser superficial e preocupado somente com decoração. Seu opositor, o Neoclassicismo, é moderado, equilibrado, ou seja, a história se repete.

Antonio Canova, Teseu e o Minotauro

       Cansado deste mundo certinho e perfeito o Pathos retorna sob a forma do Romantismo. Agora reina a imoderação, a força e a idealização da realidade.

Caspar David Friedrich, O viajante sob o mar de névoa

       Mas aí a Ratio se pergunta: “Não estamos com o Romantismo nos afastando da realidade e de seus problemas?”. Então surge o Realismo, contra a idealização romântica da realidade.

Gustave Courbet, Os quebradores de pedras

      Até que o Modernismo grita: “Basta dessa briga! Basta de tudo! A tradição está ultrapassada, vamos superá-la!”. Então ele busca novos caminhos, novas formas de se expressar em todas as artes, e entre um monte de “ismos”, ufa, temos o Expressionismo. Como será visto a seguir, o Expressionismo é todo Pathos, o que leva a crer que esse “novo caminho” não é tão novo assim.




Ernst Ludwig Kirchner, Auto-retrato como soldado

      Hoje vivemos no maldito Pós-Modernismo, sem Ratio, sem Pathos, essa verdadeira bagunça na qual vale tudo, todos falam nada e não há um caminho definido. Mas vamos falar do Expressionismo, porque ali o ser humano ainda criava uma arte viva.

      Diferente do Impressionismo, que era mais objetivo, o Expressionismo é totalmente subjetivo, sua ideia consiste em demonstrar atmosferas emocionais. A pintura é a primeira arte expressionista. No ano de 1905, nomes como Ernst Ludwig Kirchner, Emil Nolde e Max Pechstein criaram em Dresden o grupo Die Brücke (A ponte) dissolvido futuramente devido a inúmeras desavenças entre os membros.. Já Franz Marc, Kandinsky e Paul Klee criaram em Munique o grupo Der Blauer Reiter (O Cavaleiro Azul) em 1908. Mas o maior nome do Expressionismo é membro do Expressionismo Nórdico, o grande Edvard Munch. Quando se analisa os cenários dos filmes expressionistas têm-se a impressão de estar dentro daquele ambiente do quadro O Grito, de Munch (é interessante mencionar que os cenários dos filmes expressionistas eram pintados por artistas de verdade, mas muita calma, ainda não chegamos no Cinema).

O grito, Edvard Munch

         Nesse famoso quadro vemos a ausência de realidade, distorção, demonstração patente de uma atmosfera emocional, ausência de belo, Pathos, assimetria, inquietude, ou seja, é o expressionismo por excelência que, notem, possui as mesmas características do gótico. O grito é sem dúvida um dos quadros mais geniais já feitos. Percebam que o personagem que grita ficou desesperado desse jeito após cruzar na ponte com os dois homens da alta sociedade, ou seja, após conhecer a vazia vida burguesa, e aí o contraste é sensacional: Os dois homens estão completamente adaptados a essa sociedade de aparências, e estão representados pelo amarelo do céu, essa cor cheia de vida; Munch, digo, o homem que grita, por sua vez, demonstra um desespero que emociona os que contemplam o quadro. Parece que o mesmo está derretendo ante tamanho sofrimento, e é representado pelo gelado azul do rio. Seu rosto é cadavérico e seu corpo está completamente distorcido, contrastando com os corpos mais realistas dos dois homens. Mais nórdico impossível...

           Além da Pintura, o Expressionismo floresceu na Poesia, com o Neopathetisches Cabaret, que visava justamente expressar atmosferas emocionais a partir de imagens literárias; na Música, com a arte atonal de Schoenberg e seu dodecafonismo; no Teatro, com Max Reinhardt, que focava no mundo interno do personagem (em geral só havia o personagem principal nas peças) e até na Dança, com Rudolf von Laban e suas coreografias espontâneas e emocionais. Analisadas as indispensáveis bases, hora de nos determos no Cinema Expressionista.

      Se analisarmos o Cinema não pela técnica, mas pela expressão da vontade, o Expressionismo certamente figura no auge da sétima arte, porquanto sua vontade é viva e poderosa. O cinema alemão personifica o espírito da República de Weimar, ou seja, da Alemanha pós-império, pós-primeira guerra mundial. Seu cinema anterior, também chamado de “cinema Guilhermino” em alusão ao Kaiser alemão Wilhelm II (tão antissemita quanto Hitler) que abdicou em 1918 e se exilou, é um cinema bem fraco em comparação com o cinema expressionista de Weimar. Críticos mais ferozes consideraram os filmes dessa época como um monte de sucata. Após a derrota da Alemanha na primeira guerra mundial, se inicia a República de Weimar, um governo fraco numa nação acostumada com imperadores e ausência de democracia, e numa época de grave crise, fome, e pós-tratado de Versalhes, que humilhou os alemães com uma série de imposições como perdas territoriais, altíssimas indenizações e impossibilidade de se equipar decentemente suas forças armadas. Ou seja, é preciso afirmar que aquela época não pedia um governo fraco (também não pedia um bando de assassinos no poder, pois nenhuma época pede isso, que fique bem claro). Não é à toa que Weimar foi um fracasso.

          Os diretores dos filmes expressionistas agiam como verdadeiros profetas antevendo o surgimento de ditadores com poderes absolutos, que controlam as massas e pisam nas liberdades e direitos humanos. Essa temática era frequente e certamente não se tratou de uma coincidência. A norte-americana Barbara Deming afirma: “Persistentes reiterações dos temas de filmes demonstram uma projeção exterior de impulsos internos”. 

         O filme que inaugurou essa temática é O gabinete do Dr. Caligari (1920), de Robert Wiene, um dos filmes mais importantes da história do Cinema. Um crítico definiu o filme como sendo a “primeira tentativa significante de expressão de uma mente criativa no cinema”, enquanto que outros consideraram Caligari a primeira obra de arte das telas do Cinema (o que eu discordo, porquanto muitos filmes verdadeiramente artísticos foram feitos antes dele, que a meu ver é apenas um divisor de águas imenso na história do Cinema).



          Sucintamente e sem dar muito spoiler, a história do filme é a seguinte: O Dr. Caligari apresenta um show com seu parceiro hipnotizado Cesare, um homem capaz de prever o futuro. Porém, uma série de assassinatos ocorre na cidade e a dupla passa a ser suspeita pelo cometimento dos crimes. Os autores do roteiro Hans Janowitz e Carl Mayer, dois pacifistas, quiseram criticar a guerra e a autoridade com Caligari. O Doutor tem uma autoridade ilimitada, idolatra o poder como tal, e para satisfazer seu desejo de ambição ele viola todos os direitos humanos e valores. Cesare, o hipnotizado é apenas um instrumento nas mãos de Caligari. Lembra muito alguém numa época não tão distante, não é verdade?


         O autor escolhido inicialmente foi Fritz Lang, mas, ocupado em outro filme, o mesmo não pôde assumir o compromisso.  Então Robert Wiene é escolhido. Wiene faz algumas críticas ao roteiro, a dupla de roteiristas protesta, porém o filme é modificado. Segundo Siegfried Kracauer no excelente livro “De Caligari a Hitler”, “Enquanto a história original deveria expor a loucura inerente à autoridade, o Caligari de Wiene glorifica a autoridade e condena seus antagonistas à loucura. Com isso Wiene agrada o gosto das massas menos educadas”. Poderíamos acrescentar que com essa modificação ele retrata os anseios do povo alemão.

         A intenção de Kracauer é, pelo Cinema, entender a ascensão de Hitler. Hitler disse que quem não entende Wagner não entenderá o nazismo. Eu acrescento: Quem não entender o Cinema Expressionista não entenderá como o povo alemão foi capaz de apoiar o nazismo. Para Kracauer os filmes do pós-guerra expuseram a alma alemã. Uma de suas teses é que a técnica, o conteúdo das histórias e a evolução dos filmes de uma nação somente podem ser compreendidos completamente quando relacionados com o padrão psicológico real dessa nação.  No entender dele, os filmes de uma nação refletem a sua mentalidade de modo mais direto que as demais artes por duas razões:

1 – Um filme nunca é produto de apenas um indivíduo;

            2 – Os filmes se dirigem às massas anônimas. 

        Uma temática recorrente não só no Cinema alemão como na arte alemã é a busca pelo poder mediante a perda da própria alma, cujo principal exemplo é o Fausto. O que ocorreu na Alemanha nazista foi exatamente o pacto com o diabo do Fausto, O estudante de Praga, As mãos de Orlac, Peter Schlemihl e tantos outros: A busca pelo poder; o preço: a própria alma do povo alemão. E que poder almejado foi esse? Vingança da derrota humilhante na primeira guerra (lembrando que a Alemanha é um país que tem tradição militar, principalmente em se tratando da antiga Prússia), conquistas que fizeram ela voltar a ser uma potência, empregos, expulsão de povos indesejados, criação de um povo com homens superiores, etc. Ou seja, a ascensão do nazismo é como o cumprimento de uma profecia contida na Literatura e Cinema alemães. É por essas e outras que a história da Alemanha é uma das mais incríveis, sendo quase inverossímil. Um gênio já disse que a realidade é o que há de mais inverossímil. 

       Sendo bem claro, defendo o seguinte ponto: A temática dos filmes expressionistas alemães da década de 20 demonstra que o povo alemão estava disposto a pagar qualquer preço, inclusive abrir mão de sua liberdade, para que um ditador tomasse o poder e salvasse a Alemanha.

      Quanto às características dessa arte que expôs os anseios da alma alemã, é possível remeter suas origens à antiga arte gótica anteriormente citada. Segundo Worringer, o gótico transforma tudo em misterioso e fantástico. Atrás das aparências óbvias, ele vê sua caricatura disforme, atrás da vivacidade das coisas, ele vê mágica e mistério. A realidade é distorcida, tudo que é real se torna grotesco. Todas essas características estão presentes no cinema expressionista. Para se obter a mencionada distorção, os diretores usaram além dos cenários, maquiagem, escuridão, jogo de sombras e caras e bocas que lembram “O grito”. Os diretores de Weimar eram verdadeiros mestres da iluminação, bem como foram os primeiros a tornarem a câmera completamente móvel. 

                          Será que os alemães viram a realidade distorcida por esse homem chamado Caligari, digo, Hitler?
           Freud, citando Le Bon, defende que o líder de uma massa exerce uma espécie de hipnose na mesma. As armas que Hitler usou para “hipnotizar” o povo alemão foram as mais diversas: Retórica, manipulação da cor, uso de símbolos, propaganda, terror, mentiras, tudo isso em tempos de crise, com desemprego e fome. Kracauer afirma que a pequena burguesia e os trabalhadores alemães deram ouvidos às promessas nazistas guiados pela emoção e não pela realidade dos fatos. O problema de se trabalhar com a tese da hipnose do povo alemão pelo líder Hitler está em se concluir que se houve hipnose, não houve vontade livre, logo, não houve culpa dos alemães. Em verdade entendo que houve não uma exclusão da culpa, mas sim uma atenuante da culpa do povo alemão que merece ser levada em consideração. Enfim, é sempre difícil julgar uma época sem ter vivido nela.

       O Romantismo também está presente no cinema de Weimar. É como se o Romantismo tivesse esperado pacientemente o surgimento do Cinema para poder se expressar nele. Romantismo e Expressionismo se misturam nesse clássico cinema alemão de Weimar, e isso fica claro na trilha sonora: Às vezes a música do cinema expressionista é modernista, percorre caminhos obscuros; outras vezes é romântica, wagneriana. Temas clássicos como o Fausto e O anel dos nibelungos estão presentes. 

          Agora vamos assistir aos filmes expressionistas, começando pelo mais importante, O gabinete do Dr. Caligari: 





Outro filme expressionista importante é M., o vampiro de Düsseldorf, do grande Fritz Lang. Trata-se de um assassino de crianças que é procurado por outros criminosos, porquanto esses entendem que o assassino feriu a "ética" do crime. Aqui a profecia está em retratar bandidos no poder. A cena do julgamento pelos bandidos é marcante, e nos remete aos nazistas no poder, que subverteram o Direito e a lei em prol de seus propósitos criminosos. Cumpre mencionar que o filme é de 1931, sendo que Hitler vira Chanceler da Alemanha em 1933 e neste mesmo ano proíbe o filme de Lang. Assistam: 




         O filme Metropolis, de Fritz Lang, também é considerado um filme expressionista, apesar de ser claramente ficção científica. O roteiro foi feito pela esposa de Lang, Thea von Harbou, grande parceira artística do diretor e autora de inúmeros roteiros. O filme apresenta uma cidade moderna, com alta tecnologia e duas classes sociais distintas: trabalhadores e a classe alta liderada pelo empresário. O final conciliador me levou às lágrimas, mas provavelmente não agradará os marxistas de plantão, que querem luta constante e jamais uma conciliação entre as classes. 




          Um filme importantíssimo do período é Dr. Mabuse, o jogador, do mesmo Fritz Lang. O protagonista joga com as emoções das pessoas, e vemos outra vez temas como hipnose e controle da mente. Uma frase marcante do Dr. Mabuse é: "Não há felicidade, há apenas vontade de poder". Numa cena que me fez lembrar os julgamentos de Nuremberg, um personagem diz: "Eu trapaceei, sim! Mas eu não queria trapacear! Algo mais forte que eu me forçou a fazer isso". Já sabem onde quero chegar. O final do Mabuse é como uma profecia dos últimos momentos sofridos por Hitler no Bunker. O Cinema Expressionista alemão é uma grande profecia do advento e fim do Nazismo. Assistam: 

http://www.youtube.com/watch?v=IqglLUaOUvc

http://www.youtube.com/watch?v=GDMJVdWtU8c

Outro filme a ser citado de Fritz Lang é Os nibelungos, baseado na mitologia nórdica. Não é o típico filme expressionista, mas merece e muito ser tratado aqui. A trilha sonora é uma verdadeira obra-prima, a morte de Siegfried é emocionante e a vingança de Kriemhild é terrível. O filme inteiro é composto de duas partes: Siegfried e A vingança de Kriemhild. Um dos melhores filmes que eu já vi.



        Fritz Lang é um gênio, assista todos os filmes dele. Citei os mais importantes na minha opinião, mas não posso falar de todos porque a aula já está imensa. Por último falarei de A morte cansada (Destiny), esse sim tipicamente expressionista porque constantemente descreve situações emocionais. O filme trata do conflito entre amor e morte, dois temas bastante germânicos. E então, quem vencerá esse conflito? 

http://www.youtube.com/watch?v=mDO3r192kwo


Um dos diretores mais importantes do expressionismo é F. W. Murnau. Seu filme mais famoso é Nosferatu, que conta a história do vampiro drácula. Não é dos meus filmes alemães preferidos, e pra ser sincero gostei muito mais do drácula do Herzog e do Coppola. Mas é um filme importante, que tem como protagonista um ser poderoso, misterioso e demoníaco. Para a autora Eisner o "demoníaco" e as forças obscuras que povoaram o Romantismo renasceram na década de vinte como consequência das inúmeras mortes de alemães nos campos de batalha. Por todo o exposto, Nosferatu certamente é um autêntico representante do cinema expressionista e um dos primeiros filmes de terror. Deve ter assustado muita gente... na época.




Fausto de Murnau, esse sim eu degustei do começo ao fim. Releitura excelente do mito do Dr Fausto, cuja versão mais famosa é a de Goethe. O Dr. Fausto vivia para a ciência e nunca tinha amado.  Por causa disso, bem como porque contempla a morte pela peste a todo instante, o velho Fausto tem uma visão pessimista da vida. Então ele faz um pacto com o diabo, que confere a ele a juventude. Assim ele se apaixona, porém perde sua alma. O filme é de 1926; já o pacto que o povo alemão firma com Hitler é de 1933.



         Outro excelente filme de Murnau é A última risada. O protagonista perde seu emprego em um hotel por ser considerado muito velho, fica na pior, porém o final é surpreendente, talvez imposto pelo estúdio. O filme praticamente não tem letreiros. Assistam, é muito bom: 





         O filme O Golem, de Paul Wegener é sensacional. Os judeus de Praga estavam sendo perseguidos. Por isso um rabino judeu cria o Golem, um monstro que defende os judeus. Porém, o golem começa a praticar uma série de assassinatos. A temática de antissemitismo confere ainda mais importância ao filme. Essa é a versão mais famosa, de 1920: 




O Gabinete das figuras de cera é um filme de 1924 do diretor Paul Leni. Filme divertido e totalmente expressionista, principalmente quando conta as histórias das três estátuas de cera de Harun al-Rashid, Ivan, o Terrível e Jack, o Estripador. 





         As mãos de Orlac é um filme criativo de Robert Wiene, o criador do Caligari. Orlac é um pianista que perde as mãos num acidente. Os médicos decidem colocar em Orlac as mãos de um assassino recém executado. Orlac, porém, passa a virar uma pessoa maldosa com as mãos do assassino. 




Por fim, cito Nathan, o sábio. Apesar de não ser possível classificar esse filme como 100% expressionista (estaria mais para um épico), Nathan, o Sábio, de 1922, merece ser mencionado. Trata-se de uma adaptação da peça homônima de Lessing sobre tolerância religiosa em plena terceira cruzada. A crítica da extrema direita quando do lançamento do filme obviamente foi negativa e Hitler proibiu o mesmo uma década depois (para Hitler, que considerava os judeus inferiores, as palavras “sábio” e “judeu” simplesmente não combinavam). A história dos anéis contada por Nathan é bem interessante, ali ele mostra sua sabedoria, porém Saladino não fica para trás e demonstra no decorrer do filme ser tão sábio quanto. O diretor certamente achou que a época pedia um filme sobre tolerância religiosa. Nossa geração também não pode esquecer os sábios ensinamentos desse filme, pois atualmente ainda presenciamos inúmeros casos de intolerância religiosa. Portanto, assistam essa obra-prima do Cinema de Weimar:

http://www.youtube.com/watch?v=of6sF3Ul3pE

O expressionismo dura aproximadamente uma década e termina porque se esgota. A profecia havia sido feita, agora era só esperar o advento do sombrio tirano, o último personagem expressionista. Até a próxima aula.