domingo, 31 de julho de 2011

FROM THE NEW WORLD

Não posso afirmar que conheci os EUA, país maior que o gigante Brasil. Porém, o pouco que conheci já é o suficiente para um ser observador como eu tecer comentários sobre aquele lugar, seu povo e sua cultura (ou falta de cultura, como queiram).
Ruas limpas, estradas sem um buraco... É, os EUA têm suas qualidades. Diferente do Brasil, as coisas realmente funcionam lá. Para os americanos, trabalho é virtude, o que espanta um brasileiro carioca, acostumado a ver o trabalho como coisa de otário. Percebi que deveria me comportar. Estava num país sério.
Observando os americanos pude aprender como se comporta um povo educado: Fala pouco, sendo esse pouco em volume baixo; não admite que toquem nele (uma americana chamou o segurança porque uma argentina tocou em seu ombro numa discussão. A argentina, que somente tocou na americana para avisar que aquele assento era dela, foi obrigada pelo segurança a pedir desculpas); detesta que estranhos conversem e brinquem com seus filhos. Os americanos têm uma certa aversão a seres humanos. Em geral preferem robôs. Quanto à aversão, esta se dá principalmente em relação a estrangeiros latinos e muçulmanos. As muçulmanas causam espanto aos americanos por causa de suas roupas. Choque de cultura. Se eu fosse muçulmano eu morreria de rir daquelas roupas americanas, outdoors ambulantes sem criatividade, escrito “Abercrombie”, “Hollister” ou “Aeropostale”.
Observando os brasileiros “teens” nos parques da Disney pude aprender como se comporta um povo mal educado: Gritam e cantam sem parar; sentam no chão, estrategicamente situados nas passagens principais. Espanto, desprezo e pena foi o que pude ler nos olhares dos americanos que observavam os teens brasileiros. Nunca pensei que nossa economia fosse capaz de levar tanto fedelho pra Disney... Os brasileiros são a grande maioria nos parques e eu ia morrer sem saber disso. Até que o capitalismo não é tão mal nesse ponto. Dizem que ele só beneficia poucos, mas um verdadeiro mar de brasileiros, de diversos estados, tem condições de viajar e conhecer o melhor parque de diversões do mundo. Mais do que nunca estou convencido de que fui enganado: o Brasil não é pobre, é rico.
Que povo bonito! Nos EUA você chuta uma moita e aparece uma família loira dos olhos azuis, rosto perfeito, nariz fino, cabelos brilhosos, boca desenhada. É muito fácil fazer filho bonito lá: Uma loira perfeita casa com um loiro bonito e obviamente terão um filho galã. Repita o processo milhões de vezes e voilà, temos um povo bonito. Pena que depois esse filho bonito vai ficar obeso por causa da tão saudável alimentação yankee. Nos parques pude ver algumas americanas loiras maravilhosas com seus 20 e poucos anos fazendo a limpeza. É a primeira vez que vejo faxineiras com cara e corpo de modelo. Lá nos EUA o artificial é celebrado: Comida artificial, montanhas artificiais, lagos artificiais... Parece que eles esnobam o natural. É como se dissessem pra mãe natureza: “Podemos fazer igual ou melhor”. Oh, como eles se enganam! Mas se tem uma coisa que é natural é o cabelo das mulheres. Nada de tinta, brasileiras! É tudo natural (me refiro ao cabelo, não aos seios). Aqui no Brasil é mais complicado fazer filho bonito, porque somos muito misturados etnicamente falando. É necessário que a mistura dê certo, o que na maioria das vezes não ocorre. Mas quando dá certo... Vejamos o meu caso, por exemplo: Mistura de portugueses bonitos, espanhóis bonitos, austríacos bonitos, índios bonitos e quem sabe algum negão bonito, porque meu cabelo tem que ter uma origem. Posso me resumir em uma frase: “Hugo, uma mistura que deu certo”.
A educação que os pais americanos dão aos seus filhos é bem rigorosa. Não deixam passar uma “malcriação”, repreendendo todas com bastante severidade. No aeroporto, vi uma garotinha americana de 4 ou 5 anos. A menina era o capeta, confesso. Porém, fiquei enojado quando vi que a mochila dela era um cachorrinho fofo com um rabo enorme. O pai segurava o rabo do cachorro limitando os movimentos da capetinha. Mostrei pra minha mãe aquela cena grotesca e qual não foi minha surpresa quando ela respondeu: “Nossa, que mochila fofa!”. Mulheres... Aquilo era uma coleira!!! A menina estava sendo tratada como bicho, e o cachorro fofo estava ali apenas para enganar trouxa (desculpa, mãe) porquanto pegaria mal se o pai usasse efetivamente uma coleira.
Falemos acerca da comida. Você, brasileiro, que agora me lê (ainda não fiz sucesso mundial) come bem, muito bem, e talvez não se dê conta disso. A comida americana é junk. Fato curioso, os reis da junk food deveriam ser os melhores nisso, porém, acreditem, a nossa junk food é melhor! O hambúrguer americano lembra a água: é insípido e inodoro. O povo americano não manipula as ervas e demais temperos como os brasileiros. Os molhos são sempre os mesmos: barbecue, ranch, blue chesse, pimenta, pimenta e por fim, pimenta. A regra lá é pimenta em tudo, até no leite (confesso que nesse caso a culpa foi do meu irmãozinho que colocou pimenta no leite achando que fosse açúcar). Não pude conter o riso quando vi um moleque gorducho de 6 anos mais ou menos comendo uma imensa coxa de peru (turkey leg) com a mão. Como os pais permitem isso? Alimentação lá é um atentado contra a dignidade da pessoa humana.
         No tocante ao capitalismo, pude confirmar minha opinião, exposta em outro texto meu: Para o americano, só o lucro interessa. Parece que tudo naquele país é pretexto para o lucro, só está ali tendo em vista o dinheiro. Não vou dizer que é um capitalismo selvagem, porque isso é papo de comunista. Diria que é um capitalismo feroz como eu não conhecia em meu país. Observei sua técnica profissional: espadas de brinquedo sendo vendidas nas lojinhas antes de começar o show. Se você não for até lá comprar, sem problemas, a espada vai até você. Quando o show começa, vendedores anunciam a mesma espada de brinquedo que vendia lá fora. Você é vencido pelo cansaço e compra a maldita espada. No avião eu estava lendo “O nome da rosa” (um romance perfeito). Um americano no meu lado também lia um livro. Pensei: “Aposto que é um livro super capitalista, do tipo ‘como enriquecer em 30 dias’ ou ‘Lucrar é a lei’”. Depois pensei: “que preconceito meu, pode ser muito bem ‘o pequeno príncipe’”. Quando finalmente ele virou a capa do livro pude ler seu título: “A evolução do toyotismo”. O ser humano é menos preconceituoso do que dizem.
         Os negões americanos são em geral mais bonitos, mais altos e mais estilosos que os nossos negros. Usam roupas dois tamanhos acima do seu tamanho normal, chinelo estilo raider com meia e alguns exibem com orgulho seus dentes de ouro. Foi a primeira vez que eu comemorei o fato de não possuir ouro.  O jeito de falar deles também chama a atenção: todo negro americano é um rapper em potencial. Quando a atendente do Mc Donald’s falou “Anything eeelsiiir?” quase respondi “minha filha, tira essa roupa do Mc Donald’s e vai cantar!”. Fiz bem em não falar, provavelmente ela responderia “Damn, you pervert!”. Também percebi que os negros de lá tem a autoestima maior que os daqui. Se eu fosse negro e pudesse escolher aonde morar, escolheria os EUA de hoje. Eu andaria exibindo meus cordões de prata, tênis de basquete e carros de luxo. Quando digo de luxo, não me refiro ao Corolla, que lá nos EUA corresponde ao nosso querido Palio.
         Passei um mês quase naquele país e já estava me acostumando com sua organização. Mas era hora de voltar ao Brasil. Quando o avião começou as manobras de pouso, que contraste: casas feias, uma em cima da outra, uma bagunça. Era o Rio de Janeiro. Meu Deus, como eu amo essa bagunça!





quarta-feira, 6 de julho de 2011

XADREZ ROMÂNTICO








Sou bastante ambicioso
Quero a linda dama ter
Mas estou bem receoso
Pouco tenho a oferecer

Sem dinheiro e sem transporte
Resta a criatividade
Só com ela e muita sorte
Ganho a dama da cidade

Parto para o centro já
Oportunidades viso
Desempregado não dá
Dinheiro é o que mais preciso

Um serviço de peão
Foi tudo o que consegui
Já posso entrar em ação
Convidá-la pra sair

Assim que pude ataquei
Ótima idéia me veio
Meu velho cavalo usei
Chamei-a para um passeio

Completamente ignorado
Me entristeci por inteiro
Todavia isso é passado
Agora o lance é certeiro

Fui chamar sete peões
Companheiros de trabalho
Fizeram pra dama sons
Serenata um ato falho

Que som feio e dissonante
Disse a dama com desdém
Porém seguirei adiante
Desistir não me convém

Para provar destemor
Escalei alta torre branca
A dama não deu valor
E daí disse bem franca

Estava desanimando
Esperança abalada
Fui falar com o Fernando
Um bispo meu camarada

Ele disse Tenha fé
Tudo vai se ajeitar
Se o rei Deus assim quiser
A dama te amará

Parece que o rei não quis
Que defesa intransponível
Outro lance ruim fiz
Piorar é impossível

Serenata fracassou
Me valho do grande roque
O som pesado ela achou
Guitarra não quer que eu toque

Até que o peão sofrido
En passant ele avançou
Consegui ser promovido!
Meu salário aumentou!

E pela primeira vez
Mexi com a minha dama
Aceitou Jogar xadrez
Beijo! Mate! Fim do drama!